Separação. Vida nova, mas, e agora?
Ela foi casada por 10 anos! Entre altos e baixos, foi feliz, mas sofreu muito no final. Não teve filhos, mas chegaram a pensar seriamente nesse assunto. Só que não rolou. Um dia ele disse que iria embora, que não gostava mais dela. Ela se assustou. Mas no fundo, no fundo, ficou aliviada. Já sabia que seu casamento estava no fim. Sentia na qualidade do afeto, nos beijos, cada vez mais raros, nas noites de amor inexistentes nos últimos meses.
Ficar junto para quê? Dividir contas? Isso é casamento? Aceitou de bom grado a separação. Que venha, pensou! Ele saiu de casa. No começo, foi duro se acostumar… aquele apartamento que compraram juntos, mobiliaram, fizeram tantos planos ali, agora era só dela. Fez um acordo com ele e ali ficou.
Foi se acostumando, pegando gosto pela casa. Ficou do seu jeito. Sentia-se feliz ali e havia enterrado o passado. Quer dizer, era o que achava…
Tudo caminhou bem até o dia em que, numa balada – ela estava saindo com frequência – encontrou um moço que achou mais simpático do que a média. Trocaram olhares, carícias, beijos e telefones.
Começaram a se falar também por email e MSN. Ele é de outra cidade, mas vinha muito a São Paulo a trabalho. Sempre que estava na capital, tentavam se ver, sem muito sucesso, pois seu trabalho a consome muito também.
Um dia deu certo. Foram jantar, se conhecer melhor, conversar. Na hora de ir embora, ele a acompanhou até o carro e resolveu que iria para a casa dela. Não houve resistência, ao contrário. Desde que se separara, há um ano e meio, não havia ficado com ninguém pra valer. Por que seria?
Era uma mulher bonita, interessante, independente e disposta a reencontrar o amor. Mas nada parecia dar certo. No íntimo, não sabia bem por quê. Muitas vezes chegou a pensar se o fantasma do ex-marido não a rondava. Mas não admitia essa possibilidade, não queria nem pensar nisso.
Afinal, era uma mulher batalhadora, dona do próprio nariz. O que acontecia é que não havia encontrado um homem interessante até então, achava. Mas naquela noite, tudo seria diferente, pois estava disposta a se envolver com aquele moço. Ele era o seu tipo: nada de especial fisicamente, mas intelectualmente se afinavam.
Quando chegou na porta do apartamento, ele encostou o carro e se preparou para estacionar corretamente. Ela gelou. Pela primeira vez naquela relação teve medo de ir até o fim.
Como seria se ele subisse? Ficar com aquele rapaz na mesma cama que dormiu anos com o ex? Sentar com ele na sala onde tantas vezes beijou seu ex-marido? Ir para o banheiro e a cozinha com ele?
Epa, não seria tão fácil como imaginava… Não dava, não iria conseguir, teve de aceitar essa sensação que incomodava seu íntimo há tempos, mas não admitia. O que fazer? Contrariando todas as expectativas, vacilou. Amarelou. Disse para o pretendente que não queria mais. Ele se assustou, tentou fazê-la mudar de ideia a todo custo. Em vão. Estava decidida. Foi dura com ele, levou-o de volta ao hotel onde estava hospedado.
Entre lamentos e desculpas esfarrapadas, acelerou o carro e sumiu na noite. Queria ficar sozinha, refletir, não cabia ninguém na sua vida naquele momento, essa era a verdade. Apesar de já estar separada há mais de um ano, não havia se livrado pra valer do ex. Não que o amasse ainda, ao contrário.
Tinha mágoa e ressentimento guardado em seu coração. Precisava se livrar disso para começar uma nova vida.
Dormiu e acordou outra mulher, agora decidida a seguir seu rumo para valer. Primeira providência: achar um canto que fosse seu mesmo, desde o início, onde se sentisse verdadeiramente em casa. Foi então à luta: conquistar a si mesmo primeiro, para depois, então, sair em busca do outro.
Era o começo pra felicidade, que despontaria, com certeza, ali na frente.
Por: Maria Lígia Pagenotto
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